Rosas são vermelhas, violetas são azuis… será mesmo? O fato é que as cores que você enxerga podem não ser as mesmas que outra pessoa vê. Isso porque percebemos as cores através do nosso cérebro, e não de nossos olhos.
A cor não existe objetivamente, pelo menos não em qualquer sentido literal. O que existe é a luz – que é detectada até mesmo pelas medusas, que não tem cérebro, o que mostra a simplicidade da sensação.
Obviamente você pode qualificar e identificar as cores, mas elas são inteiramente fabricadas em nossos cérebros. E a luz, por incrível que pareça, pode ser transformada em qualquer cor em nossa mente – como é possível perceber em ilusões de óptica.
A cor é criada com base em nossas experiências passadas. É por isso que vemos as ilusões de óptica. Quando olhamos para uma imagem que é consistente com uma experiência passada da “vida real”, o cérebro se comporta como se os objetos da imagem ilusória fossem reais, da mesma forma.
A cor tem sido o cerne da evolução por milhões de anos. Para entender isso, basta pensar na relação entre os polinizadores e as flores (as flores são coloridas para benefício próprio) ou nos diferentes animais que utilizam as cores como forma de se camuflarem ou de atraírem a atenção – como no caso do pavão.
Pense nas cores das roupas que você está usando. Toda a moda, cosméticos e indústrias de design são baseadas na cor. O que isso significa? Que nossa percepção da cor moldou o que somos. A cor, mesmo não existindo fisicamente, moldou o mundo e a cultura humana.
É por essa relação íntima com a cor que as pessoas se perguntam por séculos: você vê o que eu vejo? A resposta nos diz não apenas como nosso cérebro funciona, mas também quem somos enquanto indivíduos e sociedade.
Em um experimento que testou a relação entre cores e emoções, que envolveu um grupo de 150 pessoas de diferentes idades, quase todos os adultos relacionaram o amarelo à felicidade, a tristeza com o azul e o vermelho com a raiva. As crianças mostraram a mesma tendência, mas as escolhas eram mais misturadas e variáveis.
Por outro lado, crianças e adultos mostraram uma relação semelhante entre a cor e os sons. Os sons mais baixos foram representadas por azul escuro e os mais altos por amarelo brilhante. O experimento indica que as pessoas parecem ter mapas mentais internos entre as cores e outras qualidades perceptivas, como sons e formas.
Em outro estudo, algumas pessoas receberam 49 blocos coloridos para que colocassem sobre uma superfície com 49 espaços. O número de imagens possíveis a serem criadas era de 10 elevado à potência de 62 – um número gigantesco.
Mas as escolhas das pessoas foram extremamente previsíveis, pois a maioria delas agrupou as cores conforme a semelhança. Isso porque temos uma necessidade inerente de criar estruturas que nos são familiares, como cores semelhantes que existem nas imagens da natureza.
Um terceiro experimento investigou os fundamentos da visão de cores. Foi pedida que pessoas avaliassem se haviam diferenças em simples detecções de luz. As mulheres foram mais sensíveis do que os homens, assim como as mulheres que tem um forte senso de controle foram mais sensíveis do que as que se sentiam impotentes – realmente algo notável quando estamos falando apenas de detecção de luz.
Assim, todos nós vemos o mundo de formas diferentes. Na verdade, não temos escolha quanto a isso porque as nossas experiências do mundo são necessariamente diversificadas. Nenhum de nós vê o mundo como ele realmente é: cada um de nós vê de acordo com nossas histórias partilhadas e com as individuais.
Esta compreensão fornece um ótimo argumento para celebrarmos a diversidade, ao invés do medo e do preconceito que são gerados com as cores. Elas são únicas, assim como cada pessoa que as enxerga.Quando você era criança e fazia uma mistura de duas cores com tintas, na escolinha de artes, o resultado não era realmente uma fusão dessas duas cores, e sim uma terceira. Se você misturava verde e vermelho, por exemplo, obtinha uma espécie de marrom, e não uma cor “vermelho-esverdeada” de fato. Embora existam, essas legítimas cores fusionadas estão além da capacidade de visão do olho humano: são as chamadas “cores proibidas”.
A origem dessa impossibilidade está no que a ciência chama de “processo oponente”. Verde e vermelho, por exemplo, são duas tonalidades com freqüências de luz distintas. Quando enxergamos vermelho, um grupo de células na retina entra em atividade, e dessa forma o cérebro sabe que deve enxergar essa cor.
Quando há luz verde, no entanto, o mesmo neurônio tem a atividade inibida, e assim enxergamos o verde. Como as células não podem estar ativadas e desativadas ao mesmo tempo, só podemos ver uma cor ou outra. Da mesma forma, funciona a relação do preto com o branco e o azul em oposição ao amarelo.
A “quebra” dessa regra aconteceu em 1983, quando dois cientistas americanos fizeram um experimento. Voluntários foram colocados em frente a um painel que apresentava faixas alternadas de luz verde/vermelha, ou amarela/azul. Um rastreador ocular, então, fez a distinção: dentro da retina de cada pessoa, metade das células recebia apenas a coloração verde, por exemplo, e outra metade das células apenas enxergava o vermelho.
O que os voluntários viram parecia ficção científica: as fronteiras entre as faixas começaram a sumir, e uma cor foi inundando pouco a pouco o espaço da outra. No final das contas, eles relataram ter observado cores que nunca haviam visto antes. Ninguém sabia descrever o que via, a cor era “simultaneamente verde e vermelha”, ou azul e amarela.
Estudos recentes identificaram, dentro de um espectro, como seriam essas cores. O “vermelho esverdeado”, por exemplo, é uma espécie de cor lamacenta, não muito diferente daquela que se obtém quando misturamos as duas tintas. Esta cor mista seria uma das chamadas “cores proibidas”: já se sabe como ela é, mas o olho comum não é capaz de vê-la sem ajuda de aparelhos.
Como não existe meio de enxergar essas cores naturalmente, elas só são vistas através do velho processo de rastreamento ocular que estabiliza a retina. O que falta acontecer, portanto, é que alguém invente uma espécie de aparelho conversor, que possa ser colocado como um par de óculos. Algo como um visualizador automático de cores proibidas
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