A disortografia é uma perturbação específica que se carateriza por erros na escrita. Segundo Vidal (1989), a disortografia pode definir-se como “o conjunto de erros da escrita que afetam a palavra mas não o seu traçado ou grafia.” (citado por Torres e Fernández, 2001, p.76).
As causas deste tipo de dificuldade de aprendizagem poderão estar relacionadas com a aprendizagem incorreta da leitura e da escrita.
Numa fase inicial, observam-se lacunas que poderão aumentar, devido à consequente insegurança para escrever. Estes fatores vão também condicionar a aprendizagem das regras gramaticais e originar erros ortográficos.
A disortografia abrange uma série de erros indicadores, que surgem de forma sistemática ao nível da escrita e da ortografia. Tendo em conta os critérios estabelecidos por Torres e Fernández (2001), estes erros podem ser subdivididos em cinco categorias: ...
1- Erros de carácter linguístico - percetivo
- Substituição de fonemas vocálicos ou consonânticos que coincidem no ponto ou modo de articulação (j-z; p-b; t-d).
- Adições
- de sílabas inteiras.
- de palavras.
- de fonemas (cereto em vez de certo).
- Omissões
- de fonemas (pota em vez de porta, gato em vez de gatos).
- de sílabas inteiras (car em vez de carta).
- de palavras.
- Inversões
- de grafemas em sílabas inversas (aldo em vez de lado, preto em vez de perto).
- de sílabas numa palavra.
- de palavras.
2- Erros de Índole visuo-espacial
- Substituição de letras semelhantes pelas suas características visuais (“m-n”, “i-j”).
- Confusão de fonemas de dupla grafia (“ch-x”, “s-z”).
- Omissão do grafema “h” por não ter correspondência fonética.
- Confusão em palavras com fonemas com duas grafias, em função das vogais (“g” e o “c”).
3- Erros visuo-analíticos
- Dificuldade em fazer a síntese entre grafema e fonema, resultando na troca de sentido.
4- Erros respeitantes ao conteúdo
- Dificuldade na separação de sequências gráficas, pertencentes a uma determinada sequência fónica: união de palavras (acasa em vez de a casa); separação de sílabas em palavras (es tá em vez de está).
5- Erros relativos às regras ortográficas
- Transgredir regras de pontuação e regras ortográficas (não colocar “n” antes de “d” e “t”).
- Não iniciar frases com letra maiúscula.
São várias as propostas de tarefas para a reeducação da disortografia. Assim, por exemplo, o aluno pode ter um caderno específico, onde realiza um inventário cacográfico de todos os erros ortográficos que comete, escrevendo sempre ao lado a palavra corrigida. Este inventário será um auxílio para atividades, tais como, memorização de palavras, escrita de frases e textos, ditados ortográficos, etc. O aluno poderá ainda soletrar oralmente palavras ouvidas ou lidas, assim como escrever palavras, depois de as analisar letra a letra e sílaba a sílaba.
Estas e outras atividades de reeducação da disortografia deverão ser realizadas regularmente e, se possível, de forma individualizada, até porque as competências aprendidas devem ser treinadas até à sua automatização, isto é, até à sua realização, sem atenção consciente e com o mínimo de esforço e de tempo.
A disgrafia pura ocorre ainda durante a gestação e já nasce com a criança. Ela não é adquirida”, explica Rubens Wajnsztejn, neurologista especializado em infância e adolescência. De acordo com Marco Antônio Arruda, neurologista do Instituto Glia de Cognição e Desenvolvimento, estudos apontam que a disgrafia é mais comum em meninos e é detectada ainda na infância, depois que o processo de alfabetização é consolidado, por volta dos oito ou nove anos. “A disgrafia pode ocorrer em adultos também, mas somente quando ocorre uma lesão, como um derrame, que pode comprometer a coordenação motora de mãos e braços”, afirma o médico. “Mas, nesse caso, já não se trata mais de disgrafia pura”.
Ainda na infância, a dúvida é saber quando a letra ilegível vai além da preguiça ou pressa e deve ser tratada como transtorno. Um teste eficiente é pedir que a criança escreva algumas frases em uma folha sem linhas, conta Raquel Caruso, psicomotricista e coordenadora da Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico (Edac). Se o resultado for uma escrita lenta, com letras irregulares, retocadas e fora das margens, é hora de preocupar-se. Além disso, os disgráficos têm dificuldades em organização espacial: daí, a escrita em que as palavras parecem “subir e descer o morro”.
Os sintomas da disgrafia não se referem exclusivamente à escrita. Alguns outros sinais de alerta podem ajudar os pais antes mesmo da alfabetização dos filhos. “Se você leva a criança a uma festa junina, por exemplo, observe se ela tem ritmo para acompanhar as músicas, memória para fixar os passos e atenção aos movimentos”, diz Raquel Caruso. Se observada alguma dificuldade nesse sentido, é hora de estimular a prática de exercícios físicos como correr e nadar, além de brincadeiras como amarelinha, pintura e recorte para estimular a parte motora dos pequenos. A falta dessas atividades pode comprometer o tônus muscular, piorando a já difícil situação dos disgráficos.
Rendimento escolar – É importante ressaltar que a disgrafia não compromete o desenvolvimento intelectual da criança nem é um indicador de que o Q.I. (quociente de inteligência) dela é baixo. Geralmente, os disgráficos são alunos muito inteligentes. A comunicação oral deles é muito boa, mas, na hora de colocar as ideias no papel, eles têm muita dificuldade”, conta.
É esse desdobramento do problema que pode prejudicar o rendimento do aluno. Devido à dificuldade no ato motor, a criança demora mais a realizar algumas atividades, em comparação a seus colegas. É o caso de tarefas simples como copiar a lição da lousa. Outra situação típica: a professora pede que os estudantes redijam um texto, e o disgráfico, envergonhado pela a letra feia, conclui que nem vale a pena escrever. “Isso abala a autoestima da criança”, diz Sônia das Dores Rodrigues, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Diante do obstáculo, ele deixa de aprender.
Sem o treinamento exaustivo da caligrafia, a atenção na escola deve ser redobrada. “Se o treinamento da letra cursiva existe desde cedo, é possível encontrar os disgráficos. Com a prática em desuso, os professores e pais podem confundir digrafia com preguiça”, alerta Marco Antônio Arruda. “Mas a letra feia pode ser treinada e as crianças tidas como preguiçosas têm as habilidades necessárias para escrever bem. Já as digráficas, não: elas não tem habilidade e precisam de tratamento.”
Como tratar – Assim como em outros transtornos de aprendizagem, o tratamento da disgrafia é multidisciplinar e envolve neurologistas, psicopedagogos fonoaudiólogos e terapeutas. Medicamentos só são indicados quando existem outros transtornos envolvidos, como déficit de atenção (DDA) ou hiperatividade.
Em relação à parte motora, é necessário uma preparação prévia do paciente, com exercícios mais amplos, para depois chegar à escrita. “O ponto principal é trabalhar com o corpo, com exercícios como manusear a argila e massagens, e depois partir para o específico, que é a escrita e outros problemas, como o de memória”, explica. “Vemos apenas o produto final, que é a letra ilegível, mas existe muita coisa por trás disso”. O tratamento pode levar meses e até anos, variando conforme o caso. O objetivo não é atingir a letra bonita, mas, sim, legível. E dar uma forcinha para o processo de aprendizado das crianças.
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