sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Musicoterapia


De acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia (World Federation of Music Therapy) “a musicoterapia é a utilização da música e/ou dos seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia), por um musicoterapeuta qualificado, com um só indivíduo ou em grupo, num processo sistematizado, de forma a facilitar e a promover a comunicação, os relacionamentos, a aprendizagem, a mobilização, a expressão, a organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, para satisfazer necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A musicoterapia procura desenvolver potencialidades e/ou restaurar as funções de um indivíduo para que este possa alcançar uma melhor integração intra e interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida, através da prevenção, reabilitação ou tratamento”.

Uma história com ritmo

A influência da música no comportamento do homem é conhecida desde a Antiguidade e foi mesmo tema de reflexão nas obras de vários filósofos gregos. Os próprios Aristóteles e Platão defendiam que a música provocava reações nas pessoas e que, por exemplo, determinada escala devia ser ouvida pelos guerreiros, para que estes ficassem mais agressivos e corajosos! Foram muitos os pensadores que seguiram a sua linha de raciocínio ao longo da história, atribuindo à música outros benefícios para além do seu cariz religioso e de entretenimento. O uso da música como método terapêutico só começou a ser utilizado, na prática, depois da II Guerra Mundial, nos Estados Unidos, com experiências realizadas com os veteranos, que evidenciaram melhorias significativas relativamente a traumas físicos e psíquicos. A descoberta de uma disciplina que utilizava, com sucesso, o som para fins terapêuticos e profilácticos foi uma coisa espantosa na altura e concluiu-se que era necessário mais pesquisa e, porque não, a profissionalização? Assim nasce, em 1944, na Michigan State University, o primeiro curso universitário de musicoterapia. No entanto, com o aparecimento dos medicamentos químicos, a musicoterapia foi relegada para segundo plano, até à década de 70, altura em que o seu valor terapêutico voltou a ser reconhecido. Em 1985, é criada a World Federation of Music Therapy, a única organização internacional dedicada ao desenvolvimento e promoção da musicoterapia em todo o mundo.

Musicoterapeuta, a profissão

O musicoterapeuta é um profissional com uma vasta formação musical (teoria e canto) e com aptidão para tocar vários instrumentos (harmônicos, melódicos e percussão); mas também tem formação ao nível da saúde e medicina, com conhecimentos profundos de psicologia, bem como da anatomia e fisiologia humana. Mas não fica por aqui, também faz parte da formação do musicoterapeuta noções de filosofia, expressão artística, expressão corporal, dança, técnicas grupais e métodos específicos de educação musical. Um musicoterapeuta pode exercer num consultório particular ou integrar equipas de saúde multidisciplinares, juntamente com médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e educadores. Assim, os musicoterapeutas podem trabalhar em hospitais, hospitais psiquiátricos, clínicas particulares, spas, em programas de tratamento de toxicodependentes, escolas, em centros juvenis e de correção.

Música para quem?

Para experimentar e beneficiar dos efeitos da musicoterapia não tem de perceber nada sobre música, não tem de saber cantar, nem tem de saber quem foram os Beatles! Tem, simplesmente, que ouvir e deixar a música trabalhar para si e para o seu bem-estar. Por isso mesmo, a musicoterapia é um tratamento aberto a todas as pessoas de todas as idades. No entanto, tem já resultados comprovados em pessoas com dificuldades motoras, autistas, pacientes com deficiência mental, paralisia cerebral, pessoas com dificuldades emocionais e distúrbios mentais, doentes oncológicos, pessoas com problemas de relacionamento, comunicação, comportamento e integração social; grávidas (ouvir música clássica durante a gravidez tranquiliza tanto a gestante como o bebé, e também ajuda na hora do parto); e idosos (nomeadamente doentes com Alzheimer, desequilíbrios físicos e dores crônicas).

Ouvir música dá saúde... como?

O nosso cérebro responde de forma natural à música, tanto até que quando damos por ela já batemos o pé ao som da mesma, daqui a nada estamos a trautear a letra e, de repente, estamos mais bem-dispostos. Um anti-depressivo natural? Os musicoterapistas e anos de estudos dizem que sim e acrescentam ainda outras mais-valias:
  • ativa a mente, estimula a nossa criatividade, produtividade e inteligência
  • ajuda a aumentar os níveis de concentração e atenção
  • melhora o nosso estado de espírito e de humor
  • reduz os níveis de ansiedade e de stress
  • distrai-nos das dores, reduzindo-as até
  • diminui a tensão arterial, o ritmo cardíaco e a taxa de respiração
  • eficaz no tratamento de insônias
  • um excelente aliado na reabilitação física de doentes
  • melhora o estado de espírito e a mobilidade dos doentes com Parkinson
  • diminui as náuseas durante a quimioterapia
  • reduz a quantidade de sedativos e analgésicos durante e depois de uma intervenção cirúrgica
  • ajuda a reduzir o tempo de permanência de um paciente no hospital
  • abre os canais de comunicação de pessoas com perturbações psíquicas (retração, inibições, repressão, negação ou dissociação de sentimentos)
Uma sessão de musicoterapia (que pode ser realizada individualmente ou em grupo) pode desenrolar-se de duas formas: como uma sessão receptiva, onde o musicoterapeuta toca música para o paciente; ou como uma sessão ativa  onde os próprios pacientes tocam instrumentos musicais, cantam e dançam ou participam noutras atividades que o terapeuta delineou para o seu caso específico.
Os instrumentos mais utilizados são o violão, o piano (ou outros instrumentos harmônicos ou com teclado); instrumentos melódicos (principalmente a flauta); e instrumentos de percussão. No entanto, nos últimos anos a musicoterapia digital (instrumentos como guitarras eléctricas, sintetizadores, baterias eletrônicas...) tem ganho terreno.
Os vários tipos de sons utilizados na musicoterapia abrem os canais de comunicação e geram reações nos seus utentes, o que lhes permite exteriorizar traumas, medos, energias e emoções negativas que, depois de uma sessão que se pretende revigorante e aliviadora, permite o crescimento emocional, afetivo  relacional e social dessa pessoa.

Estudos interessantes

  • Um grupo de 40 homens e mulheres com idades compreendidas entre os 51 e os 87 anos, foram submetidos a uma cirurgia ambulatória de catarata ou glaucoma num hospital de Nova Iorque. Metade dos pacientes receberam um walkman e auriculares para utilizar durante a cirurgia, podendo escolher a música que queriam ouvir, enquanto a outra metade não ouviu música durante a cirurgia. A pressão arterial foi medida antes da cirurgia (ambos os grupos apresentavam níveis de ansiedade elevados), e depois do início do procedimento, sendo que aqueles que ouviram música voltarem ao nível normal de pressão cinco minutos depois. Os que não escutaram música mantiveram níveis de pressão elevados durante toda a cirurgia.
  • Na unidade de cuidados intensivos de um hospital americano, os pacientes ligados a ventiladores e que escutavam música escolhida por eles estavam sempre muito mais relaxados que aqueles que não ouviam música e que, por sinal, tornaram-se cada vez mais tensos.
  • A Stanford University School of Medicine realizou um estudo que envolveu 20 pessoas a sofrer de depressão, com idades entre os 61 e os 86 anos. Durante 8 semanas, um dos grupos trabalhou com um musicoterapeuta, participando em sessões compostas por música e exercícios de relaxamento; o outro não participou em nenhuma destas sessões. No final, o primeiro grupo evidenciou melhorias significativas no seu estado de espírito e até na diminuição da própria depressão, enquanto o segundo grupo não demonstrou qualquer melhoria.
  • Várias empresas multinacionais utilizam a musicoterapia como auxílio no tratamento anti-stress de funcionários e executivos. Para além de criar um ambiente mais tranquilo e positivo, verificou-se um aumento na produtividade e no desempenho dos seus funcionários.

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