quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A paixão emagrece e o amor engorda .



 No início, a paixão emagrece. Ainda que o exercício seja só desfolhar o malmequer, ou apertar o celular com força, o coração dispara tanto que qualquer coisinha vale por dez aeróbicas. E a verdade é que paixão recém-nascida é melhor que qualquer comida. Seu apetite só pode ser saciado por coisas que não engordam: pele roçando na pele, mão esbarrando na mão, olhares que dizem tudo, beijos suspensos nos lábios. Muitas dúvidas – será que é paixão correspondida? Estará mesmo livre aquele coração? 

O sono diminui, a adrenalina corre proporcionando reflexos rápidos, os olhos brilham. Dançar, cantar, dar risada, tudo o que é bom fica fácil. E o corpinho? Afina. Cada suspiro consome cem calorias.

Até que, de repente, o desejo se realiza. Bem-me-quer, bem-me-quer! As bocas recheadas de beijos, a vida uma roda-gigante, comer para quê se o bom é amar, amar, amar? Noites movimentadas e dias à espera das noites: desnecessário também dormir. O sonho já virou vida e a vida virou estar junto. O resto se ajeita entre um encontro e outro, um telefonema e outro. Se não me engano foi Freud quem disse: paixão são dois náufragos agarrados na mesma tábua. Magros.

Aí, passado algum tempo, a paixão vai lentamente se transformando em amor. Nossos náufragos chegaram à ilha e resolveram cuidar juntos da vida, construir uma cabana e arranjar coisas para... comer. Afinal, eles merecem! Conquistaram o coração um do outro, isso não acontece todo dia, e tome celebração. É café na cama aqui, almoço ali, ceia acolá, uma viagem de férias cheia de comidas típicas, bebidas deliciosas, sobremesas fartas, e o prazer da intimidade matinal se prolonga até mais tarde – abrindo o apetite para novidades. Que a novidade já não é o outro, mas tudo o que se faz junto, tudo o que se gosta, tudo o que se adora. E pode haver algo mais adorável, excitante e gratificante do que descobrir que se gosta da mesma comida?

O amor come, o amor cozinha. O amor chama o amor de minha doçura e dá chocolates caros de presente. Compra vinhos, queijos e outras delícias. Comemora na mesa os sucessos da cama e o passar dos dias, dos meses, do ano – já um ano? Então, festa! Alegria, alegria! E assim o amor engorda.

O amor que engorda põe um olho no espelho e outro no outro, pra ver se engordaram os dois. Bingo. Bochechinhas, pneuzinhos, a cintura apertada pedindo discretamente para desabotoar o jeans... E aí, de duas, uma: ou vão ambos malhar na academia ou começam a chegar com umas roupinhas novas, larguinhas, mais confortáveis para ficar em casa, grudadinhos, vendo filmes e comendo pipoca.

Os da academia renovam a vida, se animam para um spa, resolvem caminhar de manhã e pedalar aos domingos; conhecem pessoas novas e de repente até se apaixonam de novo um pelo outro. Ou pelos outros.

Os das roupinhas largas, cada vez mais largas, em breve vão precisar de afrodisíacos. Ostras, lagostas, caviar, fígado, rins, testículos e miolos têm reputação de dar muita energia. Temperos como pimenta, canela, noz-moscada, cravo, açafrão, baunilha e gengibre estimulam a circulação, portanto podem auxiliar o sangue a chegar mais abundantemente às zonas prazerosas. Champanhe tem fama de liberar a libido mais do que qualquer outro vinho, e alguns alimentos são tidos como realmente excitantes: aspargo, aipo e alho-poró por causa da forma, faisão e pombo pelo arroubo amoroso.

Um menu afrodisíaco citado pelo Larousse Gastronomique, a quem interessar possa: sopa de tartaruga com âmbar gris, linguado à moda normanda, filé de rena com creme de leite, pombo jovem assado, aspargos ao molho holandês, salada de agrião, pudim de tutano, vinhos do porto e bordeaux, e finalmente café. 

Se funciona, não se sabe; mas que engorda, engorda.

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